Como médica que acompanha a saúde de muitas crianças, sei o quanto pode ser angustiante perceber que uma criança está com dificuldades respiratórias ou com sintomas típicos de alguma doença respiratória. Pensando em ajudá-lo a lidar melhor com essas situações, resolvi escrever este artigo para orientar pais e responsáveis sobre as 3 principais doenças respiratórias em crianças: como identificar seus sinais, os cuidados necessários e as medidas preventivas que podem minimizar complicações.

Por que as doenças respiratórias são tão frequentes em crianças?
O sistema imunológico das crianças ainda está em formação, o que as torna mais vulneráveis a infecções causadas por vírus, bactérias e outros microrganismos. Fatores como mudanças abruptas de temperatura, maior exposição a ambientes fechados e o convívio em escolas e creches intensificam o risco de contágio.
Nos meses mais frios, por exemplo, a baixa umidade do ar e a tendência a permanecer em ambientes fechados criam condições ideais para a proliferação de vírus. Isso faz com que as infecções respiratórias se tornem ainda mais comuns nesse período.
Aqui, abordarei as doenças respiratórias mais frequentes entre crianças:
- Bronquiolite
- Asma Infantil
- Pneumonia
Acompanhe as características e os cuidados específicos para cada uma delas.
1. Bronquiolite
A bronquiolite é uma infecção viral que afeta os bronquíolos (pequenos canais de ar nos pulmões), sendo mais comum em bebês menores de 2 anos.
Geralmente ocorre nos meses mais frios, quando os vírus respiratórios, como o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), são mais prevalentes.
A infecção se inicia nas vias respiratórias superiores (como o nariz e garganta), mas rapidamente pode se espalhar para os bronquíolos, causando inflamação e estreitamento dessas pequenas vias respiratórias. Isso dificulta a passagem de ar e pode resultar em sintomas como chiado, dificuldade para respirar e tosse persistente.
Principais sintomas:
- Respiração rápida ou ofegante
- Chiado no peito
- Tosse persistente: normalmente é seca e frequente, podendo durar dias.
- Dificuldade para mamar ou se alimentar: Como a respiração fica dificultada, respirar e mamar ao mesmo tempo se torna um desafio.
Em muitos casos, a bronquiolite pode se manifestar inicialmente como um resfriado comum, com coriza e febre leve, mas logo se intensifica, causando dificuldades respiratórias.
Em casos leves, ela pode ser tratada com medidas de suporte como hidratação adequada, lavagem nasal e repouso.
Quando procurar atendimento médico?
Embora em muitos casos a bronquiolite seja tratada em casa, com cuidados de suporte como hidratação e descanso, é fundamental saber identificar quando a criança precisa de atenção médica urgente:
- Se a criança tiver dificuldade extrema para respirar, com aumento da frequência respiratória ou respiração muito superficial;
- Quando os lábios ou unhas ficam com coloração azulada (cianose), indicando falta de oxigênio;
- Se a criança estiver extremamente letárgica, apática ou incapaz de se alimentar ou beber líquidos adequadamente;
- Em casos de febre alta persistente que não cede com medicamentos comuns.
Quais são os fatores de risco para a bronquiolite?
- Idade: Bebês menores de 6 meses são mais suscetíveis, especialmente os prematuros.
- Condições pré-existentes: Crianças com histórico de doenças respiratórias, como asma, ou problemas cardíacos podem ter maior risco de complicações.
- Ambientes fechados e aglomerações: A convivência em creches e escolas facilita a disseminação do vírus, tornando crianças mais expostas.
- Fatores ambientais: A exposição à fumaça de cigarro e a poluição do ar também são fatores que podem aumentar o risco de infecção.
É possível prevenir?
Embora não seja possível garantir 100% de proteção, algumas medidas simples podem ajudar a reduzir o risco de infecção:
- Evite exposição da criança à fumaça de cigarro.
- Lave as mãos com frequência, prevenindo a disseminação de vírus respiratórios.
- Mantenha as vacinas em dia, incluindo a contra o vírus sincicial respiratório (VSR), quando recomendada (como para bebês prematuros).
- Evite o contato com pessoas doentes: Especialmente durante surtos de doenças respiratórias, o contato com pessoas doentes deve ser evitado.
Na maioria dos casos, a bronquiolite tem uma evolução relativamente benigna, com a criança se recuperando em uma ou duas semanas com o tratamento adequado. No entanto, em alguns casos, a doença pode evoluir para complicações mais graves, como insuficiência respiratória, especialmente em bebês muito pequenos ou em crianças com condições respiratórias pré-existentes. Por isso, é fundamental a supervisão médica, mesmo em casos mais leves.
2. Asma
A asma é uma doença respiratória crônica que causa inflamação e estreitamento das vias respiratórias, o que dificulta a respiração. Pode se manifestar já na infância e, com o acompanhamento médico adequado, é possível controlar os sintomas e garantir qualidade de vida.
Quando uma criança tem asma, as suas vias aéreas se tornam sensíveis e reativas a diversos fatores desencadeantes, como alérgenos (poeira, ácaro, pólen, pelos de animais), mudanças climáticas, poluição do ar, exercícios físicos ou até infecções virais.
O acompanhamento médico contínuo é essencial para identificar esses gatilhos e aplicar medidas preventivas.
Como a asma afeta a criança?
Na asma, a inflamação nas vias respiratórias causa uma série de alterações que tornam os pulmões mais sensíveis, o que pode resultar em crises asmáticas, onde a criança sente dificuldade para respirar devido ao estreitamento das vias aéreas. Durante uma crise, a criança pode apresentar sintomas como tosse, chiado no peito, falta de ar e sensação de aperto no peito. Esses sintomas podem ser desencadeados por diversos fatores ambientais, físicos ou emocionais.
Principais sintomas:
- Crises de tosse, especialmente à noite ou pela manhã. Pode piorar durante ou após atividade física
- Chiado no peito
- Dificuldade para respirar: pode ser acompanhado de sensação de falta de ar, especialmente durante atividades físicas ou quando a criança está exposta a fatores irritantes.
- Sensação de aperto no peito, o que muitas vezes é uma dificuldade para expandir os pulmões completamente.
Em crianças pequenas, a tosse pode ser o único sintoma perceptível, o que pode tornar a condição difícil de ser diagnosticada inicialmente.
Como controlar a asma?
Durante as consultas, oriento as famílias sobre a importância de identificar os gatilhos que desencadeiam as crises e adotar medidas preventivas:
- Evitar os gatilhos da asma: Identificar e evitar os fatores que desencadeiam as crises, como alérgenos, fumaça de cigarro e mudanças climáticas extremas, é essencial para o controle da asma.
- Manter o ambiente limpo: Limpar regularmente o ambiente da criança, especialmente o quarto. Use capas antiácaros em colchões e travesseiros, lave as roupas de cama com frequência e evite o uso de carpetes, cortinas e bichos de pelúcia.
- Evitar o contato com fumos e poluentes, que podem agravar a asma.
- Incentivar hábitos saudáveis: A prática regular de exercícios físicos (sob orientação médica), uma alimentação balanceada e a manutenção de um peso saudável podem ajudar a melhorar a função pulmonar e reduzir os sintomas da asma.
- Utilize medicamentos necessários, como broncodilatadores e anti-inflamatórios, apenas sob orientação médica;
- Educar a criança sobre a doença: é importante ensinar a criança a reconhecer os sinais de uma crise asmática e como usar os medicamentos corretamente, como o inalador ou o espaçador.
Quando procurar atendimento médico?
Você deve buscar ajuda médica imediata se a criança apresentar:
- Dificuldade extrema para respirar, com respiração muito rápida ou ruidosa.
- Chiado no peito intenso ou contínuo que não melhora com o uso de medicamentos.
- Dificuldade para falar ou fazer atividades simples devido à falta de ar.
- Se os medicamentos de alívio rápido não estiverem funcionando ou se a criança precisar de mais doses do que o habitual.
Prevenção das crises de asma
A prevenção das crises de asma envolve:
- Vacinação: especialmente a vacina contra a gripe.
- Evitar o contato com pessoas doentes: principalmente durante surtos de resfriados ou gripes.
- Acompanhamento médico regular: Consultas periódicas são essenciais para ajustar o tratamento conforme necessário e evitar complicações.
3. Pneumonia
A pneumonia é uma infecção que atinge os pulmões e pode ser causada por vírus (principalmente pelo Vírus Sincicial Respiratório), bactérias (como o pneumococo) ou fungos. Ela pode aparecer de forma repentina e, em crianças, pode evoluir rapidamente, tornando-se uma condição séria que exige tratamento médico imediato.
Como a pneumonia afeta o corpo da criança?
Quando a criança é acometida por uma pneumonia, a infecção pode afetar os alvéolos pulmonares, onde o oxigênio é absorvido e o dióxido de carbono é eliminado. A inflamação e a produção de secreção nos pulmões dificultam esse processo, resultando em sintomas como tosse, dificuldade respiratória, febre e cansaço extremo. Dependendo da gravidade da pneumonia, a criança pode ter dificuldades para respirar ou até mesmo apresentar sinais de falta de oxigênio, o que torna o atendimento médico urgente.
Fique atento a estes sintomas:
Os sintomas da pneumonia podem se apresentar de maneira semelhante aos de outras infecções respiratórias, como resfriados e gripes, mas tendem a ser mais intensos e prolongados. Os sinais mais comuns incluem:
- Febre alta persistente: Uma febre que não cede facilmente com medicamentos comuns e dura mais de 48 horas.
- Tosse intensa: pode ser seca ou produtiva/secretiva.
- Falta de apetite: Muitas crianças perdem o apetite durante a infecção devido ao mal-estar geral.
- Dificuldade para respirar: com sinais de esforço para respirar (respiração rápida, superficial ou o uso das musculaturas do pescoço e costelas).
- Náuseas e vômitos podem ocorrer, especialmente em infecções graves.
- Cansaço extremo: A criança pode mostrar-se mais sonolenta, letárgica e sem disposição para brincar ou realizar atividades que antes eram fáceis para ela.
- Cianose: Em casos graves, pode haver a coloração azulada nas extremidades (lábios, unhas ou rosto), um sinal claro de que a criança está com falta de oxigênio.
Tratamento da pneumonia:
O tratamento depende do tipo de pneumonia e da gravidade da infecção:
- Pneumonia viral: A pneumonia causada por vírus geralmente é baseada em cuidados de suporte, como hidratação, medicamentos para controlar a febre e o mal-estar, e repouso.
- Pneumonia bacteriana: Esta exige o uso de antibióticos, que podem ser administrados por via oral ou, em casos mais graves, por via intravenosa no hospital. O antibiótico escolhido depende da bactéria suspeita ou confirmada e da resposta da criança ao tratamento.
Quando procurar ajuda médica?
A avaliação é essencial para a recuperação da criança. Não hesite em procurar atendimento médico ao perceber esses sinais:
- Dificuldade respiratória severa ou rápida.
- Febre persistente que não cede com medicamentos comuns.
- Dificuldade para comer ou beber devido à falta de apetite.
- Qualquer sinal de cianose (coloração azulada na pele, lábios ou unhas).
Se a pneumonia for diagnosticada e não exigir internação, é importante garantir que a criança se mantenha hidratada, em repouso, evitando locais aglomerados e com contato com cigarro, além da utilização de medicamentos para alívio de febre e dor, conforme orientação médica.
Prevenção é sempre o melhor caminho:
A prevenção da pneumonia envolve várias medidas que ajudam a reduzir o risco de infecção:
- Vacinação: Mantenha as vacinas obrigatórias em dia, incluindo a pneumocócica e a da gripe;
- Higiene das mãos: Ensinar as crianças a lavar as mãos regularmente e evitar o contato com pessoas doentes.
- Evitar a exposição a poluentes como fumaça de cigarro e outros irritantes respiratórios, como produtos de limpeza fortes.
- Amamentação: Bebês que são amamentados têm maior proteção contra infecções respiratórias, pois o leite materno contém anticorpos que ajudam a fortalecer o sistema imunológico.
- Evitar o contato com pessoas doentes
- Alimentação saudável: Uma dieta rica em frutas, legumes e vegetais fortalece o sistema imunológico;
O papel da prevenção na saúde infantil
A saúde das crianças reflete os cuidados que dedicamos a elas diariamente.
Por isso, além de evitar a exposição a fatores de risco e manter o acompanhamento médico regular, é fundamental garantir um ambiente saudável e acolhedor para o crescimento delas.
Simples atitudes, como manter a hidratação, priorizar uma alimentação balanceada e ensinar hábitos de higiene (como lavar as mãos corretamente), são medidas extremamente eficazes para a prevenção de doenças respiratórias.
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Através de um acompanhamento regular, é possível monitorar e prevenir complicações na saúde de crianças e adolescentes..
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